Introdução

      Para grande parte da população é desconhecido mas existe realmente uma diferença entre sexo e género. Enquanto o sexo está relacionado com a identidade biológica da pessoa, o género é a apresentação pública e objectiva do indivíduo que pode ser masculina ou feminina.

 Para a maioria das pessoas a identidade de género, isto é, o sentimento íntimo de ser masculino ou feminino, está de acordo com o sexo biológico (por exemplo, um homem sente e actua como um homem). No entanto existe uma minoria populacional que é afectada por um transtorno de identidade de género. Essas pessoas são designadas por transexuais.

O que é a transexualidade?

    Ainda durante a gravidez, uma pergunta que habitualmente se faz à mãe é “vai ser um menino ou uma menina?”. Isto porque o saber popular considera que da mesma maneira que os meninos crescem para se converter em homens, as meninas crescem para se converter em mulheres. Só existem duas possibilidades. Basta ver o "sexo genital" no momento da ecografia e sabe-se. Porém, como veremos, as coisas não são assim tão simples.

    Durante a gestação, um feto que possui genes masculinos (cromossomas XY) geralmente desenvolve-se com genitais masculinos. Desenvolver-se-á com genitais femininos se possuir genes femininos (XX). Isto ocorre 99% das vezes. Os médicos e os pais simplesmente olham para os genitais do feto, numa ecografia, e declaram-no menino ou menina.
       
     Aqueles que são identificados como meninos geralmente desenvolvem-se como homens, com uma identidade de género masculina, e aquelas que são identificadas como meninas normalmente crescem como mulheres com uma identidade de género feminina. Mais uma vez, tudo parece muito óbvio.

    Contudo existe o facto de que alguns meninos, aparentemente normais, não se comportarem nem se sentirem como tal. Apesar de possuirem os genes XY normais, genitais masculinos normais e de terem sido educados como meninos, possuem os sentimentos genéricos, as sensações e a identidade de género de meninas. De maneira similar, algumas meninas têm comportamentos e sentimentos de acordo com o sexo oposto. Não acontece frequentemente, mas acontece.


E o que origina esta condição?

      Como explicação para esse facto, tem vindo a crescer uma certa evidência de que determinadas estruturas cerebrais no hipotálamo determinam, em cada pessoa, o núcleo dos sentimentos em relação ao seu género e uma identideade de género inata. Estas estruturas instalam-se na parte baixa do cérebro e no Sistema Nervoso Central (SNC) durante a gravidez.
     
     Parece que se tais estruturas no cérebro e no SNC do feto são masculinizadas pelas hormonas sexuais durante a gravidez , então a criança terá uma auto-perceção e identidade de género masculina, independentemente dos genes ou dos genitais serem masculinos. Se tais estruturas não são masculinizadas nesse período, a criança terá então uma auto-perceção e identidade de género femininas, também independentemente dos genes ou genitais. O mesmo acontece no caso oposto, no caso das mulheres. (segundo o professor catedrático de Medicina de Psicobiologia, Antonio Guillamón) - http://portal.uned.es/portal/page?_pageid=93,644264,93_20540419&_dad=portal&_schema=PORTAL&id_noticia=1385 .

      Também o célebre cirurgião plástico especializado em cirurgia de redesignação sexual, João Décio Ferreira afirma: “Ora meus amigos no caso dos Transexuais o que se passa é precisamente o mesmo ... é também um erro no desenvolvimento embrionário ... só que não se vê cá por fora. Espantados ? ... Pois é. Um Transexual é alguém que nasceu com um corpo que corresponde de facto ao que indicam os seu cromossomas, XX = Feminino e XY= Masculino, mas que por uma "falha" no desenvolvimento embrionário o cérebro que se formou é do sexo oposto. Podemos assim ter um individuo com um corpo masculino e um cérebro feminino ou visse versa.
Esta situação manifesta-se quando o bebé por volta dos 2 ou 3 anos toma conhecimento do seu corpo e nota que ele não corresponde ao que ele "sente" que é, menino ou menina. É como se um dos nossos "sábios" que escrevem esses comentários olhasse para o espelho de manhã e visse em si uma vagina onde entendiam que devia estar um pénis, ou visse versa. É isso que sente um transexual desde que toma conhecimento do seu corpo, isto é desde bebe. Só que a Sociedade reprime-o nessa sua situação e ele ou ela sofrem horrores até que alguém os encaminhe para um médico adequado, normalmente um Psiquiatra dedicado a Sexologia.”


Assim, essas crianças nascem com um sexo neurológico e uma identidade de género inata em oposição ao que indicam os genes e os genitais. Essas crianças serão educadas de acordo com um género contrário ao seu sexo neurológico. Isto vai-lhes causar uma profunda angústia mental à medida que vão crescendo. Estes são os transexuais, as pessoas que têm um Transtorno de Identidade de Género, ou seja, que vivem com um sexo biológico que não corresponde ao seu sexo neurológico, que não corresponde ao que elas são.

Cirurgias de mudança de sexo - Programa "Participação Popular" - 24-02-2011


Episódio do programa brasileiro “Participação Popular” em que se trata o delicado assunto da transexualidade.
No Brasil, ao contrário de Portugal, a transexualidade já não é considerada um taboo, sendo cada vez mais frequente o diagnóstico de casos de transexuais e de especialistas nesta área.

Diagnóstico e tratamento

Apesar do transtorno da identidade de um transexual poder residir nele desde uma idade muito precoce, é necessário que seja feito um diagnóstico clínico por parte de um psicólogo/ psiquiatra. No nosso país, a transexualidade, está classificada como uma doença psiquiátrica cuja cura passa pela realização uma cirurgia para transformar o corpo no sexo que a pessoa acredita ser o seu. Uma operação que tem que ser autorizada pela Ordem dos Médicos e cuja lista de espera é de dois anos, até porque só há um cirurgião, que até já está reformado, a operar em Portugal. O diagnostico correcto de um transexual é de vital importância uma vez que, caso a pessoa decida avançar para a operação de mudança de sexo, o tratamento cirúrgico é irreversível e, se incorrectamente indicado pode levar à mutilação genital até mesmo ao suicídio.

Depois de diagnosticados como sendo transexuais, é necessário proceder ao tratamento, que se inicia por uma fase de acompanhamento psicológico, que é a base de toda a terapia. Isto deve-se ao facto de ser nesta fase que é identificada a necessidade e a possibilidade de tratamentos hormonais e até da realização da cirurgia de redesignação sexual. Como tal, é recomendado um período-teste de cerca de dois anos antes da cirurgia durante o qual se prepara a pessoa em questão para todas as mudanças que vão ocorrer no seu corpo durante a sua transformação. Durante este período, as pessoas transexuais são submetidas a medicação hormonal, aconselhadas a viver totalmente de acordo com sua suposta identidade de género, tal como vestirem-se e comportarem-se em concordância com o seu sexo psíquico. Isto é importantíssimo, pois gradualmente adquirem o conforto e a espontaneidade necessária para a encarnação do seu novo sexo. Vivem momentos bons e maus, ao mesmo tempo que têm um feedback de como as pessoas irão reagir à mudança, uma vez que, na maioria das vezes, sua convicção pessoal não está muito firme de que se sentirão bem após a cirurgia. Pacientes bem preparados durante este período, geralmente, tornam-se bem integrados socialmente depois da correcção cirúrgica.

No nosso país, ao contrário da maioria dos países europeus, grande parte dessas pessoas que procuram tratamento para a transexualidade são mulheres que se sentem homens porque é essa a informação que o seu cérebro lhes dá. Há algumas que chegaram a casar e ter filhos para tentar encaixar num padrão de normalidade mas que, para serem felizes, acabam por se transformar em homens.


Psicoterapia:
A psicoterapia é adequada para os transexuais, para ajudá-los a conviver com o mundo que os rodeia, para terem uma visão mais realista do tratamento hormonal e cirúrgico a que se submeterão e para encarar sua vida futura após a mudança. Contudo, como a psicoterapia não alterará a profunda incongruência entre o sexo biológico objectivo e a identidade de género subjectiva de um transexual, o tratamento hormonal e cirúrgico para mudar o corpo em direcção ao sexo desejado são as únicas soluções para este dilema.


Terapia Hormonal:
A terapia hormonal tem como objetivo induzir o aparecimento de caracteres sexuais secundários compatíveis com a identidade de género. O corpo modifica-se, assim como a mente da pessoa.
É de extrema importância o acompanhamento de um médico e de um psicólogo.


No caso de mudança de sexo masculino para feminino:
      O tratamento hormonal à base essencialmente de estrogénios e progesterona gera:
- diminuição da fertilidade até à esterilidade
- diminuição do tamanho do pénis
- aumento gradual dos seios
- redistribução de gordura para regiões tipicamente femininas
- crescimento de pêlos no corpo torna-se mais lento, e os pelos podem-se tornar ligeiramente mais claros ou menos intensos.
- a pele torna-se mais clara e fina, e a sensibilidade ao toque aumenta ligeiramente.
- mudança nos odores corporais, na urina e na pele.
- amplificação das emoções, tornando a pessoa mais suscetível a descargas emocionais, choros e outros sentimentos.
- atuação menor das glândulas sudoríparas, gerando menos suor.


No caso de mudança de sexo feminino para masculino:
     O tratamento hormonal à base essencialmente hormonas masculinas, como a testosterona, gera:
- desaparecimento gradual da menstruação.
- esterilidade, como consequência do desaparecimento da ovulação.
- aparecimento de barba e pelos no peito.
- o timbre de voz torna-se mais grave.
- redistribuição da gordura corporal.
- aumento da libido.
- diminuição da actividade glandular.


Cirurgia de redesignação sexual:
A cirurgia constitui o último e derradeiro processo no tratamento da transexualidade. Várias técnicas cirúrgicas são utilizadas, não só procurando atingir o objectivo estético mas também a funcionalidade da genitália, tentando preservar a capacidade destes indivíduos atingirem o orgasmo.

No caso de mudança de sexo masculino para feminino é necessária a realização de uma cirurgia genital que inclui uma orquiectomia (remoção dos testículos), penectomia (remoção do pénis), vaginoplastia, clitoroplastia e labiaplastia. A cirurgia consiste em fazer os grandes lábios da vulva com tecido e pele do escroto e do pénis e os pequenos lábios vulvares com pele do pénis. A glande do clitóris é feita com parte da glande do pénis e a vagina com um excerto livre de uma parte de intestino delgado, mais propriamente o jejuno. A manutenção, sempre que possível, da enervação no tecido usado na construção da neovagina é fundamental na recuperação cirúrgica e na funcionalidade do órgão. Além da cirurgia para a troca de sexo, outros procedimentos cirúrgicos podem se fazer necessários como a rinoplastia, por exemplo, para que se adquira uma face mais feminina. Também pode ser necessária uma fonocirurgia para afinar a voz, e mamoplastia, para aumentar as mamas.

No caso de mudança de sexo feminino para masculino a cirurgia genital a realizar inclui uma mastectomia (ressecção dos músculos peitorais), uma ovariectomia (remoção dos ovários), histerectomia (ressecção do útero), metoidoplastia (formação de um pequeno pénis com os tecidos do clitóris e dos pequenos lábios vulvares e formação de um escroto com os grandes lábios vulvares) e colocação de próteses testiculares. O paciente pode ou não, conforme a sua vontade, também realizar uma faloplastia, cirurgia de aumento do pénis, e uma cirurgia de correcção do tamanho dos mamilos.




Após mudança de sexo anatómico é importante sublinhar que os transexuais perdem por completo a capacidade reprodutiva embora as suas vidas sexuais se mantenham mais ou menos saudáveis no geral. No caso das mulheres que se transformam em homens é um pouco mais complicado uma vez que torna-se um pouco difícil manter o pénis erecto devido à complexidade de construir a uretra e portanto nem sempre é possível atingir o orgasmo. Já no caso dos homens que se transformam em mulheres os órgãos genitais são funcionais quase por completo sendo mais simples estes atingirem o orgasmo.

Para além disso, existem outros aspectos negativos em relação à cirurgia de redesignação sexual, tais como, ser um tratamento mutilante e irreversível e não garantir o alívio total do sofrimento psicológico. 

Oprah Winfrey: conhece a vida fascinante da modelo Lea T.


O célebre programa americano de Oprah Winfrey recebe a modelo brasileira Lea T, um caso de sucesso no mundo dos transexuais. Esta modelo conta a sua história de vida, desde que era um jovem menino até ter iniciado os tratamentos e a sua consequente transformação, sendo agora uma das modelos mais requisitadas nas passerelles de todo o mundo.

Transexualidade na adolescência

Por vezes, ainda em pequenas, as crianças começam a evidenciar comportamentos típicos do sexo oposto, contudo isto não significa que possuam uma perturbação de género.
Nestes casos, as crianças devem ser acompanhadas por um psicólogo de modo a descartar possíveis patologias, tais como, a homossexualidade ou a bissexualidade e perceber se a criança tem realmente os géneros confundidos. Se o desejo de mudança de sexo se mantiver durante a pré-adolescência então podem ser administradas hormonas que interrompem o aparecimento dos caracteres sexuais secundários de modo a dar tempo ao adolescente de amadurecer os seus sentimentos em relação a viver num corpo estranho. No caso dos meninos, a voz não ficará mais grave, nem nascerá barba. No caso das meninas, não ficarão menstruadas nem desenvolverão seios.


Durante este período são feitos exames contínuos, tanto a nível físico como psicológico, e no caso de o adolescente mudar de ideias, os tratamentos com hormonas são interrompidos e tudo volta ao normal. Se, por outro lado, a ideia de mudar de sexo persiste, o adolescente, entre os 18-19 anos, é submetido a tratamentos definitivos com a administração de testosterona, no caso das mulheres que se pretendem tornar homens, e estrogénio e progesterona, no caso dos homens que se querem transformar em mulheres. A fase final do tratamento culmina com a realização da cirurgia por volta dos 20 anos.

Quando o diagnóstico e o tratamento são realizados antes ou durante a fase da puberdade, os efeitos pretendidos com a mudança de sexo são muito mais satisfatórios e é atenuado o sofrimento do transexual.

“O menino que quer ser menina” (caso de uma criança americana)

Embora seja ainda um assunto de muita controvérsia, a transexualidade começa a ser abordada de forma diferente, pelo que cada vez mais pessoas se assumem como sendo portadoras de um transtorno de identidade de género.

Existem vários exemplos de histórias de pessoas cuja sexualidade foi alterada por motivos de insatisfação. Um dos exemplos mais recentes é o de um menino, nos EUA, que sempre quis ser menina. Quando tinha apenas dois anos de idade, Thomas Lobel foi adotado por um casal de lésbicas e, agora, aos 11 anos, está a ser submetido a um tratamento hormonal inovador para o impedir que passe pela puberdade. Este processo, aparentemente simples, passa por colocar no braço da criança um implante que bloqueia a produção de hormonas masculinas. Deste modo, Thomas irá ganhar tempo para crescer e assim, mais tarde, decidir se quer ser homem ou mulher.

“Eu sou uma menina” – disse Thomas às suas mães, Pauline Moreno e Debra Lobel, com apenas 3 anos. Já com 7 anos, optou por medidas mais drásticas e tentou amputar o pénis. Esta atitude levada a cabo pelo menino, fez com que Pauline e Debra iniciassem um longo processo junto de médicos especialistas e o diagnóstico não se fez tardar: Thomas sofria de um transtorno de identidade de género, ou seja, embora tenha corpo de rapaz, por dentro é uma rapariga.

É um facto que mais de 50% dos indivíduos que sofrem deste transtorno tentam o suicídio, pelo menos uma vez na vida, antes dos 20 anos. Se estas mães nada fizessem, o mais provável seria que o filho se tornasse numa pessoa infeliz quanto à sua sexualidade ou, pior cenário, que tentasse acabar com a própria vida.

Atualmente, Thomas está a fazer um tratamento hormonal em Berkeley, na Califórnia, que o inibe de atravessar a puberdade como qualquer pré-adolescente. De acordo com os médicos, este procedimento dará à criança tempo para descobrir se quer fazer a transição completa para o sexo feminino ou passar pela puberdade como um menino. Caso decida optar por deixar de tomar os medicamentos, Thomas passará normalmente pela puberdade como um rapaz. Caso contrário, se decidir fazer a transição para mulher, pode tomar hormonas femininas que lhe vão afinar a voz e desenvolver seios.

Documentário "Transgender Lives" com Lisa Ling (2011)


Documentário americano em que a reporter Lisa Ling vai conhecer a vida de 5 transexuais, incluindo o caso de uma criança de 6 anos que já nesta precoce idade, tendo nascido com o sexo masculino, se assume como rapariga, vestindo-se e comportando-se como tal (06:34 minutos). Isto mostra que a transexualidade não é uma opção de vida, mas sim um transtorno mental que já nasce com a criança (segundo teorias recentes).

Legislação Portuguesa

Apesar de parecer retrógrado e ignorante relativamente a este assunto, Portugal possui a lei mais liberal relativamente aos transexuais, nomeadamente à mudança do sexo legal. Frequentemente referida como Lei de Identidade de Género, tinha vindo a ser discutida desde há bastante tempo na medida em que, anteriormente a esta, a mudança de sexo legal implicava uma longa e constante batalha em tribunal, nem sempre bem sucedida, o que frustrava a comunidade LGBT (lésbica, gay, bissexual e transexual).

      Esta implementação de nova lei não foi contudo fácil. Após grande resignação da comunidade afetada por ausência de legislação, foi o Bloco de Esquerda a avançar com um projecto de lei, ao qual se seguiu o do Governo em funções. Este último foi aprovado em Assembleia da República em finais de 2010, esperando a promulgação de Aníbal Cavaco Silva. No entanto, a 6 de Janeiro de 2011, Cavaco vetou a lei alegando “graves insuficiências de natureza técnico-jurídicas”. Isto causou, como seria de esperar, reações por parte de políticos e defensores da causa. Assim, o projecto foi reconfirmado na Assembleia da República a 17 de Fevereiro e desta vez promulgado por Cavaco Silva a 1 de Março, entrando em prática a 21 desse mês, a qual pode ser consultada em http://amplosbo.files.wordpress.com/2011/03/lei-de-igualdade-de-gc3a9nero.pdf.

      A nova lei veio então facilitar todo o processo, passando-o dos tribunais para as conservatórias, da responsabilidade da justiça para o registo civil. Desta forma, a lei passa-o de uma duração de meses e até anos, para uma questão de dias ou de semanas. Para que se inicie o mesmo, é necessário que se seja um cidadão português, com mais de 18 anos e com devida apresentação do relatório comprovativo do diagnóstico do Transtorno de Identidade Sexual por um médico e um psicólogo. Pode então apresentar o requerimento de alteração de sexo, escolhendo o novo nome pelo qual virá a ser chamado. O indivíduo muda então legalmente de sexo, apesar de permanecer como transexual nos registos médicos, na medida em que os diversos tratamentos e processos sofridos podem ter influência na saúde do indivíduo e corresponder a restrições futuras de tratamento.

      Contudo, apesar de terem alcançado um objetivo já há muito desejado, o enorme preconceito ainda existente na nossa sociedade não se vai alterar devido a esta nova lei. É necessária então sensibilização de modo a que a integração das pessoas que passam por todo o processo seja completa, e que toda a discriminação desapareça. Este é um dos motivos pelos quais desenvolvemos este projeto e o divulgamos a toda a sociedade.

Conclusões retiradas dos questionários

Com o intuito de percebermos a opinião da nossa comunidade escolar, desenvolvemos um questionário acerca de todos os aspectos correspondentes à transexualidade. Restringimo-nos, contudo, a delegados e subdelegados de turma do ensino secundário, dado o carácter controverso do tema. O feedback foi claramente positivo, pelo que obtivemos uma excelente amostra representativa daquilo que pensa a comunidade.

Tendo em conta não só os questionários como também as nossas interações e discussões acerca do tópico, concluímos que:
- A maior parte ainda confunde os conceitos de travestismo e transexualidade.
- A maioria aceita estas pessoas (transexuais) em sociedade, embora alguns dos inquiridos revelem alguns preconceitos ainda enraizados.
- A quase totalidade, revelou pensar que a psicoterapia é o passo mais importante no processo de mudança de sexo.
- A maioria acha que os transexuais fazem a cirurgia com o objectivo de fazer corresponder o seu sexo anatómico ao seu sexo psíquico.
- A maior parte afirmou que, após a cirurgia, o sexo do paciente passa a ser o correspondente aos órgãos genitais construídos, embora alguns tenham respondido que o sexo se manteve inalterado.
- Uma percentagem considerável de indivíduos indicou que a cirurgia tem um carácter mutilador dos genitais em favor de uma instância psíquica.
- Grande parte dos inquiridos disse que os pedidos de alteração de nome e de sexo jurídico na identificação do transexual deveriam ser direitos da dignidade humana.
- A maioria revelou que, futuramente, os transexuais serão aceites pela sociedade, embora as opiniões tenham divergido para opções como a repulsão ou perseguição.

As conclusões apresentadas, que nos permitiram compreender as posições que a nossa comunidade escolar tem relação ao tema da transexualidade, foram retiradas com base numa análise relativamente precisa dos dados recolhidos nos questionários. Deste modo, ao elaborarmos um diagrama representativo de cada pergunta/resposta e a sua percentagem de frequência, foi-nos possível determinar com alguma precisão aquilo que, em geral, os nossos colegas pensam sobre a condição dos transexuais.

Conclusão

Este trabalho permitiu-nos conhecer um pouco mais acerca da transexualidade, um tema bastante polémico na nossa sociedade e que ultimamente tem trazido à baila conceitos, preconceitos e traumas enraizados na mente humana.

A transexualidade não é uma orientação sexual, como muitas mentes retrogradas ainda pensam, mas sim uma perturbação de identidade de género que nada tem a ver com o ambiente/educação em que o indivíduo vive. Os transexuais dizem sentir sofrimento psicológico por acreditarem que houve um erro na determinação do seu sexo anatómico e, como tal, a maioria destas pessoas procura ajuda juntos dos médicos com vista à mudança de sexo biológico, de forma a aliviarem o seu sofrimento e resolver a sua frustração em relação à sexualidade. 

Concluímos também que a maioria dos transexuais que procuram pela cirurgia não tem como objetivo principal uma vida sexual ativa, mas sim igualar a aparência do seu corpo com a imagem interna do mesmo. Embora alguns transexuais, mesmo após a cirurgia, continuem a vestir-se de acordo com o seu antigo sexo, devido essencialmente a motivos profissionais ou práticos, o que importa é que agora eles estão mais aliviados, pois os seus corpos estão em concordância com a imagem interna de si próprios.
Ainda que, hoje em dia, a cirurgia já seja realizada um pouco por todo o mundo, esta engloba algumas questões éticas tais como o seu caracter. Muitas pessoas ainda se questionam sobre se terá esta cirurgia um caracter mutilador de um genital em favor de uma instância psíquica, ou reconstrutor possibilitando a correcção de um erro morfológico.

A questão legal também está directamente relacionada com o tema da transexualidade, uma vez que é indispensável para que o transexual operado se possa integrar correctamente na sociedade através da mudança de nome e também de sexo jurídico. Actualmente, em Portugal já existe legislação para estes casos e que por sinal é uma das mais liberais em todo o mundo.

Por último, em termos sociais a transexualidade começa cada vez mais a ser aceite pela sociedade actual, embora ainda existam alguns preconceitos em relação a estas pessoas que são muitas vezes descriminadas em termos de oportunidades de trabalho ou até mesmo no próprio grupo de amigos. Cabe, portanto, às gerações futuras acabar com estes preconceitos e instituir uma nova mentalidade, mais aberta e compreensiva, que não ofereça uma opressão psicológica aos transexuais que se pretendem afirmar perante uma sociedade que se quer mais justa e mais acolhedora.